terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre o livre-arbítrio...

Bom, vou compartilhar a visão que tenho hoje do livre-arbítrio. Acrescentando que essa visão pode ser ampliada no futuro. Na verdade creio que será ampliada, como já aconteceu com muita coisa que diz respeito ao Pai nessa minha caminhada com Ele. Entretanto, todos são livres para concordarem ou não com ela! hehe

Vou voltar muuuuito no tempo pra começar a falar dessa questão. Desde o início dos tempos, temos uma prova e tanto do livre-arbítrio. Quando Adão pecou [e Eva também, claro], é óbvio que Deus já sabia o que ia acontecer, afinal, Ele é onisciente, sabe de todas as coisas. No entanto, Ele deu ao homem uma escolha, e essa escolha é representada pela inclusão da árvore do bem e do mal no Jardim do Éden. Seria mesmo necessário que essa árvore estivesse lá? Se Deus também é onipotente, todo-poderoso, Ele poderia ter deixado essa árvore de fora... Quem iria acusá-lo de dar "um jeitinho"? E falo em jeitinho, caso houvesse uma lei que motivasse a inclusão da árvore. O que quero dizer é que, se fosse necessário por alguma lei espiritual [criada por Ele mesmo] que essa árvore estivesse lá, Ele poderia ter dado um jeito de mudar isso. Por isso, acredito que a existência dessa árvore era permitir ao homem exercer o livre-arbítrio que recebeu.

E ele exerceu, né? Fez uma má escolha e, por causa dessa má escolha, Deus precisou colocar em prática seu plano B, que foi Jesus. Não seria muito mais simples suprimir essa escolha do homem do que enviar Seu Filho Amado à terra para libertar a humanidade do pecado originado no Éden?

Todas as coisas ruins que vemos acontecer hoje são consequências de um mundo caído. Ao homem foi dado o domínio sobre a terra, mas quando ele pecou, entregou esse domínio ao diabo. Por isso todos estão sujeitos a acontecimentos desagradáveis, ruins e trágicos nesta terra.


Falando sobre o livre-arbítrio na prática. Realmente não acredito em acaso ou coincidências. Afinal, a Palavra afirma: "Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados". [Mt 10.29-30] Deus sabe de todas as coisas e está no controle delas. Entre as definições que podemos encontrar para a palavra 'consentimento', estão 'permissão' e 'tolerância' [Michaelis]. Isso quer dizer que nem tudo que acontece é a vontade de Deus. Muitas coisas são simplesmente consequências da vida em um mundo caído. No entanto, Deus sabe de todas essas coisas e pode, se quiser, interferir, porque Ele está no controle.

Como mencionei, nem tudo o que acontece é da vontade de Deus. Muitas pessoas estão indo para o inferno porque não souberam usar a escolha que lhes foram dadas. Mas a usaram, né? Ou estão usando. O plano de Deus não diz respeito apenas a nossas vidas. O plano de Deus é restaurar toda a criação - novos céus e nova terra. Ele escolheu contar com a gente nessa tarefa, mas podemos dizer 'não'. Mas não importa nossa resposta, ela pode entristecê-Lo, mas não vai impedi-Lo de cumprir Sua vontade. E vemos isso com clareza acompanhando a história de Israel. Quantas não foram as más escolhas que eles fizeram, que despertaram a ira de Deus, mas também Sua compaixão? Estou lendo o livro do profeta Isaías e fica visível pra mim [me dói, muitas vezes] o sentimento de Deus quanto a este povo... sentimento de decepção, de tristeza, um profundo lamento, e às vezes até um pouco de deboche [quando o Pai ironiza os ídolos que o povo cria para adorar]. Mas a Palavra promete a restauração final de Israel. Mas essa promessa não vai trazer de volta aqueles que ficaram pelo caminho, aqueles que foram repreendidos, mas permaneceram no erro. Ela é para um "remanescente", aquele que restou vivendo em fidelidade ao Senhor. Esse remanescente pode ser interpretado, também, como Jesus. Como Jesus não anda sozinho, mas torna co-herdeiro quem O aceita, essa promessa inclui aqueles que forem resgatados pelo Seu sangue.

Prosseguindo sobre a vontade soberana de Deus, Seu plano mais amplo e nossa liberdade de escolha, nunca encontrei uma imagem que melhor o expressasse do que essa compartilhada pelo jornalista e escritor Phillip Yancey, em seu livro O Deus (in)visível [recomendo muito essa leitura!]:


Para Pablo, o melhor enxadrista que conheço.

No colégio, sentia orgulho da minha habilidade no jogo de xadrez. Filiei-me ao clube de xadrez e, na hora do almoço, sempre me encontrava sentado a uma mesa com outros nerds, estudando minuciosamente livros do tipo Classic king pawn openings [Aberturas clássicas com peões do rei]. Estudei técnicas, venci a maioria das partidas e deixei o jogo de lado aos vinte anos. Então, em Chicago, encontrei um jogador de xadrez que aperfeiçoava sua capacidade desde o tempo do colégio. Quando jogamos algumas partidas, vi o que era jogar contra um mestre. Qualquer ataque clássico que eu tentava, ele contra-atacava com uma defesa clássica. Se arriscava técnicas menos ortodoxas, ele incorporava minhas ousadas incursões em suas estratégias vencedoras. Até mesmo os erros aparentes ele transformava em vantagens. Eu comia um peão desprotegido e, em seguida, descobria que ele o havia plantado ali como isca sacrificial e parte de um grande plano. Embora tivesse total liberdade de fazer qualquer movimento que desejasse, logo cheguei à conclusão de que minhas estratégias de nada valiam. Sua superioridade fazia com que meus propósitos inevitavelmente acabassem servindo aos dele.

Talvez Deus opere em noso universo, criação dele, de forma parecida. Ele nos garante liberdade para nos rebelarmos contra o Seu plano original, mas quando agimos assim, acabamos “ironicamente” servindo a Seu alvo final de restauração. Se aceito esse plano – um imenso passo de fé, confesso – , ele transforma minha perspectiva das coisas boas e más que acontecem. As coisas boas, como saúde, talento e dinheiro, posso apresentar a Deus como ofertas para Seu proveito. E as coisas más – incapacidade, pobreza, problemas familiares, fracassos – também podem ser “redimidas” como os próprios instrumentos que me levarão a Deus.

Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância” (Fil.4:11), escreveu o apóstolo Paulo na prisão. Naturalmente, ele preferia o conforto em lugar da agonia e a saúde em lugar da fraqueza (sua oração pedindo a Deus que tirasse  o “espinho na carne” prova isso), mas passou a acreditar que o Senhor poderia usar tanto as circunstâncias boas quanto as ruins para realizar a Sua vontade.

Mais uma vez, algum cético poderia me acusar de flagrante racionalização, argumentando o contrário para que as evidências provem uma conclusão anterior. Sim, exatamente. Um cristão começa com a conclusão de que um Deus bom restaurará a criação ao Seu plano original e vê toda a história como um processo para esse fim. Quando um Grande Mestre joga contra um enxadrista amador, a vitória é certa, seja qual for a configuração do tabuleiro. [Philip Yancey, em O Deus (in)visível, Editora Vida, 2001, pág. 254-255].

Acho que poderia encerrar aqui, mas ainda tenho mais um ponto a acrescentar. Vamos observar a introdução de algumas epístolas da Bíblia:

Rm 1.1 - "Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus..."

Jd 1.1 - "Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos que foram chamados, amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo..."

Tg 1.1 - "Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações."

2Pe 1.1 - "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, mediante a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam conosco uma fé igualmente valiosa..."

Ap 1.1 - "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João..."

Todos estes homems aceitaram o chamado de Cristo. Por isso se declaram servos d'Ele. A forma como viveram e como morreram tiram qualquer dúvida nossa sobre essa afirmação ser real ou não, né?

Quando aceitamos Jesus como não apenas nosso Salvador, mas nosso Senhor, nos tornamos servos, ou escravos. Entregamos nossas escolhas pra Ele. Ele se torna o nosso modelo de vida e somos chamados a uma vida de obediência à vontade d'Ele. Por amor, Ele abriu mão de Sua própria escolha e se entregou para uma morte de cruz. Mais do que isso, o Verbo de Deus, que criou todas as coisas, "esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens". [Fp 2.7] O apóstolo Paulo, para ser bem-sucedido em seu ministério foi além da obediência a Deus, como escrito em 1Co 9.19: "Porque, embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas". Os missionários moravianos aplicaram essa palavra literalmente - eles se vendiam como escravos para que pudessem pregar o evangelho àqueles em escravidão terrena.

Então, se Jesus é nosso Senhor, não temos mais escolha. O plano de Deus irá se cumprir nas nossas vidas. Todas as coisas irão cooperar a nosso favor [Rm 8.28]. Mas há sempre a possibilidade de voltar atrás. À escravidão do pecado.

"Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo".
Galátas 1.10


"Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos".
Isaías 55.9


ps: espero ter dado uma contribuição significativa às suas dúvidas... depois marcamos a tarde na nova área! rs

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